O jornal espanhol El País publicou neste domingo (9/11) uma matéria sobre o novo cenário político no Brasil, após a reeleição de Dilma Rousseff no segundo turno. O jornalista Juan Arias comenta as dificuldades que o PT deve enfrentar e as prováveis ações de Dilma como mandatária, e de Lula, nos bastidores.
“O slogan 'Volta Lula' se apagou com as eleições. Ele não voltou. Foi embora porque ele não quis ou porque Dilma Rousseff não deixou voltar, não importa. Dilma voltou a ser presidenta, mas Lula também voltou e está mais ativo do que nunca até na formação do novo Governo, pelo menos em seus ministérios chaves.
É conhecido o estilo de Lula de fazer política, pragmático, negociador e não ideológico, além de sua capacidade de metamorfose para adaptar-se às circunstâncias (como ele mesmo destacou de seu caráter). E é lógico que às vezes esse estilo se choque com o de sua criatura, bem diferente: menos contemporizador, mais direto, às vezes até duro e exigente e sem muito espaço nem vontade para excessivas negociações. E mais ideológico. Dilma é de esquerda. Lula é, simplesmente, sindicalista”.
Saberemos em breve. O melhor espelho será a nomeação do novo ministro da Economia. Será alguém à imagem e semelhança dela a quem deverá se submeter goste ou não, ou levará a marca de Lula, mais liberal e independente, mais parecido ao que teria escolhido a oposição se tivesse vencido as eleições? É importante, porque as decisões mais importantes que deverá tomar o novo Governo serão em matéria de economia e poderiam, com cortes inevitáveis de gastos e subida de serviços públicos, prejudicar momentaneamente os interesses das classes mais necessitadas”.
E o PT? Aí Lula deverá colocar em ação o melhor de seu estilo conciliador porque em seu partido as águas também estão alvoroçadas. Estão aqueles que querem arrastar o partido para a esquerda, com o objetivo de poder prescindir o antes possível do PMDB, visto como mais de direita do que talvez seja na realidade. Alguma vez, por acaso, esse partido investiu contra a liberdade de imprensa?
Será esse desejo do PT de dar uma guinada à esquerda a tática de Lula, que sempre se sentiu muito bem com seus aliados mais conservadores?”
Arias continua sua análise: “Seria melhor começar a aceitar que Lula já voltou e que já é candidato para 2018. Melhor para Dilma que, não tendo que se preocupar em assegurar sua reeleição, tampouco precisa se diferenciar tanto da política de Lula (que, como todos sabem, de um modo ou de outro, continuará sendo influente, pelo simples fato de que o PT é ele. Goste ou não.) Volta a antiga frase de que Lula não existiria sem o PT, assim como este tampouco seria nada sem Lula. Menos ainda, contra ele.
De Dilma Rousseff já se sabe que ela não nasceu no partido do ex-sindicalista, que nunca teve cargo nem influência nele a não ser pelo fato de ter sido a candidata escolhida. Por Lula, mais que pelo partido. Por isso chegou-se a falar de dilmismo em contraposição ao lulismo. Ela acaba de dizer: “Eu não sou o PT”, e é verdade”.
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